- Gisele Vidal
- 3 de jan. de 2024
- 6 min de leitura

Você realmente acredita quem é mais introvertido pode liderar? E já parou para pensar nos desafios enfrentados por esses líderes mais silenciosos, discretos e que valorizam sua privacidade?
Compartilhei aqui na rede uma reportagem da BBC falando que os lideres mais silenciosos ou introvertidos podem ser bons chefes.
A repercussão deste post foi uma grande tempestade de likes, compartilhamentos, milhares de visualizações, pessoas marcando umas às outras e mensagens privadas. O post na integra você pode acessar aqui.
Toda essa repercussão me trouxe duas grandes reflexões:
As pessoas estão realmente buscando escuta e acolhimento dos seus gestores, o que no geral, os introvertidos usualmente fazem facilidade.
Há uma grande descrença que introvertidos podem ser bons lideres, além de bastante sofrimento, inquietação e desafios diários daqueles lideres mais silenciosos no exercício de sua função.
Por isso, aqui compartilho alguns dos principais desafios de quem é mais introvertido e busca ou está atualmente em um cargo de liderança.
Esses desafios são baseados nos relatos de clientes que atendo nas minhas consultorias individuais, das mensagens privadas que recebi ao publicar o post original e também da minha própria história, já que também faço parte desse tipo de liderança mais silenciosa.
Vamos aos desafios então:
Ser um lider mais autêntico e menos “pavão”, ter mais autoconfiança e acreditar que é possível liderar sendo introvertido
Muitos introvertidos simplesmente nem pensam na possibilidade de um dia serem líderes, ou lidam com vários mitos como o de não terem skills com pessoas, que não péssimos para influenciar, vender e que não sabem se comunicar.
Mesmo tendo ótimos resultados em suas áreas de atuação, sensíveis às pessoas ao seu redor e com boas habilidades estratégicas, acabam muitas vezes buscando profissões ou cargos nas organizações mais de especialista, onde ou trabalharão mais sozinhos, ou terão menos exposição.
Liderança, na sua definição simples, tem a haver com influenciar, de forma positiva, a contribuição individual de cada membro de uma equipe para atingir um conjunto de metas em comum.
Por algum motivo, porém, a percepção da sociedade do o que é um “bom líder” mudou, de alguém que encoraja e cuida do sucesso individual e coletivo, para alguém que fala muito, tem uma boa dose de carisma, é bastante extrovertido, tem boa aparência, aparece bem em apresentações e discussões em grupo.

É o que eu chamo da imagem e necessidade de performar como um “pavão macho alfa". Do aparecer, brilhar e ocupar o espaço na frente do grupo.
Sob essa ótica, da supervalorização da extroversão, da necessidade de parecer e performar em público, a introversão e o não querer aparecer pode acabar significando quase que uma “patologia” , defeito e que não tem a ver com liderar.
Mas convido, de todos modos, a observar na prática quais são as características mais associadas ao sucesso de um líder e a refletir um pouco sobre isso.
Basicamente, o que leva ao sucesso de um líder tem a ver mais com: capacidade de inspirar e motivar, ser integro e honesto, resolver a analisar problemas, entregar bons resultados, se comunicar nos diversos meios (one-to-ones, e-mails, reuniões, grupos), criar relacionamentos fortes, ter conhecimento da sua área de atuação, bom em desenvolver estratégias, capacidade de desenvolver outras pessoas e inovar.
Por isso, a performance do lider depende muito mais do desenvolvimento de uma série de habilidades do que efetivamente se é extrovertido ou introvertido.
Então, que tal ao invés de tentar fingir que é extrovertido e falante, investir tempo para trabalhar no desenvolvimento de mais autoconfiança sobre suas reais capacidades, no acreditar que sim é possível e desenvolver um estilo de liderança mais autêntico e que valoriza o que você tem de bom ?
E se ainda você não acredita em si, talvez valha pena dar olhada nos vários lideres introvertidos famosos que temos por aí para aprender com eles: Bill Gates, Michael Jordan, Barack Obama, Gandhi, Eleanor Roosevelt, Warren Buffet, etc. Enfim, eles realmente existem!
Lidar com os diversos rótulos colocados em você, necessidade de socialização constante e criar espaço para relacionamentos profundos

Quieto demais, esquisito, reservado, estranho, antissocial, aquele que não vai nas festas dos escritórios,etc. Quem é mais introvertido já ouvi algo desse tipo em algum momento da vida.
Muitas pessoas precisarão colocar algum tipo de rótulo em você para ajudá-las a processar porque você não age como elas.
Isso acontece em todos os âmbitos, desde a época da escola, nas reuniões de família e não seria diferente no ambiente de trabalho.
No fundo, essas situações e rótulos tem muito pouco a ver finalmente com sua performance no trabalho, ou qualidade dos trabalhos que você entrega. Isso é o que realmente importa.
Mas entendo que para alguns,esse ponto do julgamento alheio pode causar muita dor e um esforço extra para que a qualidade do seu trabalho, ou que você como ser humano seja realmente valorizado.
Então, vale a pena refletir, por um momento, o porquê desses rótulos. Eles têm a ver, muitas vezes, porque nós mais introvertidos, não gostamos de ficar jogando conversa fora, ou participar de discussões “simples” como falar sobre o final de semana, discutir sobre a atual fofoca do escritório, o meme da moda, participar do grupo de WhatsApp de zoeira da firma ou falar sobre o tempo lá fora.
Esse tipo de conversa, nos tira a energia, normalmente acaba sendo muito superficial e não cria nenhum tipo de intimidade emocional. Não que o humor e leveza não sejam importantes, mas maioria das vezes não se aprende nada sobre o outro e não há espaço para interações significativas .
Nossas habilidades nos relacionamentos são normalmente a profundidade e a escuta, e nos sentimos altamente motivados para entrar no mundo interior do outro e compartilhar o nosso mundo interior também quando nos sentimos seguros.
Então, por que não gerar conversas mais significativas e investir mais nos relacionamentos um a um que fazemos tão bem?
Você pode, por exemplo, fazer o outro contar uma história através de perguntas abertas, por exemplo “O que você acha da situação X”, ou “Por que você decidiu trabalhar como engenheiro aqui?” . Enfim, criar espaço perguntar mais os porquês e menos os quês para gerar a profundidade que gosta.
Atrever-se a ser honesto e autêntico, abandonar a polidez podem te ajudar a ter um pouco mais de paz e criar laços mais profundos também.
Que tal deixar explícito, por exemplo, que não gosta de ir muito a festas, que prefere ouvir mais do que falar e ao receber algum tipo de comentário maldoso explicar que não gostou do que ouviu e como se sentiu sobre ele?
Ser autêntico, honesto e verdadeiro rapidamente constrói intimidade e relacionamento . E o recarrega as baterias de um introvertido são as conversas e relacionamentos profundos.
Conviver com o estresse da superexposição, excesso de estímulos e aprender a se recarregar
Festas da empresa, muitas reuniões mandatórias, conviver com colegas e chefes extremamente extrovertidos, espaços de trabalho abertos e barulhentos podem ser algum dos fatores de aumento do estresse.

Isso porque quem é mais introvertido, ganha energia quando fica mais em silêncio, tem tempo para processar informações, fazer avaliações de cenário, planejar ou simplesmente ter um pouco de tempo para pensar. Mas não significa que não gostemos de socializar, só precisamos de mais espaço e tempo sozinho para recarregar.
Quando o líder mais introvertido não encontra esse espaço suficiente para recarregar e lidar com o excesso de estímulos, o resultado pode ser catastrófico para a saúde mental.
É importante observar alguns comportamentos não muito saudáveis quanto a internalizar em excesso o estresse, seus sentimentos e pensamentos muito acelerados.
Os introvertidos tendem a experimentar mais ansiedade antecipatória, ou seja, imaginar todos os cenários, incluindo o pior que pode acontecer, provocando grande preocupação e ansiedade desnecessária.
Também, como tendem a mais a ouvir e ajudar mais ao próximo, podem demorar a acessar outras pessoas para suportá-los com seus próprios problemas. Tendem a guardar mais para si o que lhes preocupa.
Por isso, buscar aprender mais sobre inteligência emocional, colocar limites ao seu grau de exposição, gerir o estresse e ter pessoas de confiança que você possa se abrir podem ser uma boa pedida.
Investir em coisas como meditação, Journaling, autocuidado, atividades físicas, terapia e ter uma vida social respeitando seus limites de socialização pode ajudar muito na saúde mental.
Por último, no dia-a-dia de trabalho, encontrar pequenos momentos de pausa sozinho entre uma reunião e outra, optar por cargos ou empresas com esquema de trabalho híbrido ou remoto, usar quando possível linguagem mais escrita e reservar espaço na agenda para planejar pode dar um certo alívio no dia-a-dia.
Ser valorizado por seu trabalho e usar seus dons com sabedoria.
Como gritar em um alto-falante a respeito das suas conquistas ou no que está trabalhando pode não ser seu estilo, normalmente os mais introvertidos não fazem muita propaganda de seu trabalho e deixam que as próprias entregas falem por si só.

E embora você possa ter muitas realizações, se ninguém souber delas, é improvável que você tenha o reconhecimento ou compensação que merece.
Quando se trata de suas realizações, apenas declare os fatos e, quando possível, faça-o por escrito se sentir-se mais confortável.
Claro, dê crédito aos outros sempre que for devido – lembrando-se de dar a parte justa a você.
Por exemplo, você pode divulgar um projeto enfatizando o valor que ele trouxe aos clientes e dividir seus aprendizados do processo em vez de colocar o holofote em si diretamente e nos seus pontos fortes ou de sua equipe.
Por último e talvez mais importante, entender que você pode ser um líder autêntico e ser conhecido não só pela entrega dos resultados, mas por suas características únicas e seu estilo próprio de liderança.
Os mais introvertidos normalmente são bons ouvintes, pensam e planejam com grande profundidade sobre metas e objetivos, deixam e ajudam outras pessoas a brilharem também.
E, em um mundo tão já barulhento e agitado, por que não serem aqueles que vão abraçar a missão de proporcionar um pouco mais de paz e calma nos ambientes corporativos?
Eu sou Gisele Vidal e ajudo você a ficar em paz (de novo) com o seu trabalho. Gostaria de saber mais sobre meus programas de consultoria de carreira e liderança?
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